domingo, 30 de maio de 2010

Culpa de quem?

Enquanto estudava 'Os Anormais', texto aula de Michel Foucault, passava na televisão mais uma daquelas reportagens mais do que já mastigadas sobre pedofilia. 'Os Anormais (M.F.)' trás a tematização as análises de casos, que a psiquiatria toma como patológico. O comportamento doentio que também apareceu na tv. Palavras como: monstro e doente pude perceber nos dois casos (Reportagem e Texto-aula). Mas um caso em especial me chamou atenção. Aliás, foram dois casos que muito se assemelham tanto na reportagem quanto no texto.
Trata-se de meninas que mantêm relações sexuais com homens mais velhos. Essas meninas, crianças, tem pleno consentimento do que fazem, já que em ambos depoimentos colocam abertamente os atos de maneira descriminada. Fora isso existe mais um ponto em comum: o financeiro!
Nos dois casos, as meninas chegam a procurar o 'aliciador' em troca de dinheiro. No texto de Foucault a 'vítima' ganha o suficiente para comprar apenas amêndoas torradas, no caso que era reportado pela tv, as 'vítimas' arrecadaram ao máximo 40 reais. Em ambos, são meninas pobres. Consideradas facilmente alvo de aliciadores.

Mas já que as vítimas, nos dois casos descriminam tanto o abuso pelo qual passaram, seria um caso onde a culpa (sentimento que sempre se procura) é mesmo de um criminoso ou doente mental?
Sei que esse texto pode chocar a moral de muita gente, mais o fato deve ser dito. E todo esse caos sexual possui bem suas raízes.
Tudo começa quando a Igreja instaura o pudorismo sobre as relações sexuais. Fato que ao entrar em nossa casa, hieraquisa a família. Nem sempre pais e filhos dormiram em quartos separados. O estabelecer dessa separação deixa claro a separação entre a sexualidade adulta e a infantil. Daí nasce a 'criança', não como ser físico, mas como concepção institucionalizada, nasce o termo criança, a funcionalidade social de ser criança.
A partir disso, dessa separação da sexualidade, temos os ensinamentos ao mesmo tempo que temos os segredos. Temos a Igreja, e sua atuação escolar, que ensina a moralidade contanto a fantástica história de Adão e Eva expulsos do paríso por causa de uma maçã! Quem não acredita muito em fábulas sabe bem que não era culpa da maçã, pois logo depois de expulsos o casal do paraíso teve dois filhos.

Culpar, culpar, culpa. Na hora que se pega um pedofilo só existe um sentimento: culpa. Culpa que o leva ao crime, mas crime que foi institucinalizado assim pela nossa sociedade, pelo puratanismo religioso. Separar sexualidade infantil da adulta criou as crianças e criou assim seu sentimento de "pureza". Não estou aqui defendendo os pedofilios como sendo seres normais. Normais eles são, mas perante essa lei protetora das crianças, não.
Além de criminalizar a pedofilia, deveriamos rever um pouco nossas concepções 'morais'. Onde está a educação sexual que nossas crianças deveriam receber, sem que fosse preciso culpar uma maçã e uma serpente? A banalização do sexo pelas idéias puritanas revela que nossos pequenos seres humanos muitas vezes nem sabem o que estão fazendo. No caso que citei acima, as 'vítimas' se ausentam de serem 'forçadas' a algo ou qualquer relação. Aí fica bem claro um ponto crucial caracteristico desse caos: a ausência de assistência vigilante.
Os verdadeiros responsáveis pela integridade desses pequenos muitas vezes os libertam, não participam ativamente dos ensinamentos morais efetivos, e escondem e detem qualquer conhecimento da realidade sexual. No caso do texto de Michel Foucault, a 'vítima' também será punida, pois em depoimento a mesma deixou claro que achava tudo natural. A educação que não lhe foi transmitida em casa será dada então em anos de reclusão em reformatórios. No caso reportado no Brasil só deixa claro a deficidência da consciência educacional do nosso país, já que só se prende o pedófilo, e não dá nenhuma medida educativa as 'vítimas' que cederam facilmente ao ato sexual criminalizado por 40, 20 ou 10 reais.

E pior é que nem sempre temos nossas crianças tão protegidas sexualmente, já que a única lição que recebem muitas vezes, é a marginalizada pela mídia que joga o tempo todo apologias sexuais na tv, na música, na dança. A deficiente educação pela qual sofrem nossas crianças, que de fato, nunca serão eternas crianças, e que no futuro o que aprenderam errado tende a se repetir e acontecer o ensinar errado.

3 comentários:

  1. UM ÓTIMO TEXTO MIILLA. SUA COMPARAÇÃO FOI MUITO BOA :)

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  2. Mila,parabens muito objetiva em seus comentários!
    Isso mostra o quanto a educação se faz fundamental na construção e formação do ser humano.
    Tudo depende de uma socialização primária bem focada e bem objetivada nas relações de poder e disciplina que a criança deve receber.
    Não Só o Jouy citado no texto de foucault sofre disso,todas essas pessoas que agem da mesma forma possuem uma anormalidade,mais esssa anormalidade vêm de uma deficiência educacional que não é totalmente preenchida.
    Ao invés de serem "policiados",esses seres humanos carentes de educação e de atenção devem passar por especialistas que os orientem através de uma educação e uma disciplina sólida e eficaz.

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