sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lula em Paris: imprensa sabuja dá vexame

Circula há alguns dias na internet um debate sobre o mérito de o ex-presidente Lula ter recebido o título de Doutor Honoris Causa do Instituto de Estudos Políticos de Paris, mais conhecido como Sciences-Po, na terça-feira 27.

Em seu blog Balaio do Kotscho, no R7, o experiente jornalista resume a vergonhosa cobertura dos colegas brasileiros. Confira:

Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?

Lula recebe título de Doutor "Honoris Causa" em Paris. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Começa assim, acreditem, com esta pergunta indecorosa, a entrevista de Deborah Berlinck, correspondente de O Globo em Paris, com Richard Descoings, diretor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Sciences- Po, que entregou o título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente Lula, na tarde desta terça-feira. Para outro colega, pareceu estranho premiar um presidente que se orgulha de nunca ter lido um livro.

Resposta de Descoings:

“O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico (…) O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences- Po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente do diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade.”

A entrevista completa de Berlinck com Descoings foi publicada no portal de O Globo às 22h56 do dia 22/9. Mas a história completa do vexame que a imprensa nativa sabuja deu estes dias, inconformada por Lula ter sido o primeiro latino-americano a receber este título, que só foi outorgado a 16 personalidades mundiais em 140 anos de história da instituição, foi contada por um jornalista argentino, Martin Granovsky, no jornal Página 12.

Tomei emprestada de Mino Carta a expressão imprensa sabuja porque é a que melhor qualifica o que aconteceu na cobertura do sétimo e mais importante título de Doutor Honoris Causa que Lula recebeu este ano. Sabujo, segundo as definições encontradas no Dicionário Informal, significa servil, bajulador, adulador, baba-ovo, lambe-cu, lambe-botas, capacho.

Sob o título “Escravocratas contra Lula”, Granovsky relata o que aconteceu durante uma exposição feita na véspera pelo diretor Richard Descoings para explicar as razões da iniciativa do Science- Po de entregar o título ao ex-presidente brasileiro.

“Naturalmente, para escutar Descoings, foram chamados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático (…). Um dos colegas perguntou se era o caso de se premiar a quem se orgulhava de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e deu um olhar de assombrado(…).

“Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção”, foi a pergunta seguinte. O professor sorriu e disse: “Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o julgamento da história este assunto e outros muito importantes, como a eletrificação das favelas em todo o Brasil e as políticas sociais (…). Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente, não damos lições de moral a outros países.”

Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa de Lula era parte da ação afirmativa do Sciences Po. Descoings o observou com atenção, antes de responder. “As elites não são apenas escolares ou sociais”, disse. “Os que avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro-mecânico que chegou à presidência, mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas.”

No final do artigo, o jornalista argentino Martin Granovsky escreve para vergonha dos jornalistas brasileiros:

“Em meio a esta discussão, Lula chegará à França. Convém que saiba que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. No Brasil, a Casa Grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terra e escravos. Assim, Lula, silêncio por favor. Os da Casa Grande estão irritados.”

Desde que Lula passou o cargo de presidente da República para Dilma Rousseff há nove meses, a nossa grande imprensa tenta jogar um contra o outro e procura detonar a imagem do seu governo, que chegou ao final dos oito anos com índices de aprovação acima de 80%.

Como até agora não conseguiram uma coisa nem outra, tentam apagar Lula do mapa. O melhor exemplo foi dado hoje pelo maior jornal do País, a Folha de S. Paulo, que não encontrou espaço na sua edição de 74 páginas para publicar uma mísera linha sobre o importante título outorgado a Lula pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris.

Em compensação, encontrou espaço para publicar uma simpática foto de Marina Silva ao lado de Fernando Henrique Cardoso, em importante evento do instituto do mesmo nome, com este texto-legenda:

“AFAGOS – FHC e Marina em debate sobre Código Florestal no instituto do ex-presidente; o tucano creditou ao fascínio que Marina gera o fato de o auditório estar lotado.”

Assim como decisões da Justiça, critérios editoriais não se discute, claro.

Enquanto isso, em Paris, segundo relato publicado no portal de O Globo pela correspondente Deborah Berlinck, às 16h37, ficamos sabendo que:

“O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido com festa no Instituto de Estudos Políticos de Paris – o Sciences- Po -, na França, para receber mais um título de doutor honoris causa, nesta terça-feira. Tratado como uma estrela desde sua entrada na instituição, ele foi cercado por estudantes e, aos gritos, foi saudado. Antes de chegar à sala de homenagem, em um corredor, Lula ouviu, dos franceses, a música de Geraldo Vandré, “para não dizer que eu não falei das flores”.

“A sala do instituto onde ocorreu a cerimônia tinha capacidade para 500 pessoas, mas muitos estudantes ficaram do lado de fora. O diretor da universidade, Richard Descoings, abriu a cerimônia explicando que a escolha do ex-presidente tinha sido feita por unanimidade.”

Em seu discurso de agradecimento, Lula disse:

“Embora eu tenha sido o único governante do Brasil que não tinha diploma universitário, já sou o presidente que mais fez universidades na história do Brasil, e isso possivelmente porque eu quisesse que parte dos filhos dos brasileiros tivesse a oportunidade que eu não tive.”

Para certos brasileiros, certamente deve ser duro ouvir estas coisas. É melhor nem ficar sabendo.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Antropologia Urbana

Palestra com o Antropólogo, que consideravelmente, um dos maiores contribuidores da Antropologia Urbana no Brasil: Professor Doutor José Guilherme Cantor Magnani.





terça-feira, 6 de setembro de 2011

Elementar Senso Comum

Como estudante das Ciências Humanas e Sociais a indagações que nós aparecem por meio da realidade a ser fundamentalmente analisada correm com certa velocidade tanto que muitos não conseguem estabelecer pontes entre clássicos e contemporâneos. Mas isso foi apenas uma consideração prévia.
Se o pretendente candidato a profissional sociólogo, antropólogo ou cientista político tiver calma e não praticar a sectarização dos fatos da realidade social é bem mais simples se aproximar do objeto de estudo sem fundar um conflito entre as ideologias determinantes e as concepções científicas. O que estou tentando aqui dizer é que a má interpretação do social e dos dados sociológicos muitas vezes coloca aspirantes das ciências humanas numa posição delicada; e onde a maioria dos aprendizes acabam por premissas científicas ferindo a integridade do sistema social a qual está inserido. Apesar do olhar crítico, um sociólogo, antropólogo ou cientista político não está isento do título de senso comum, e não que isso seja visto de um modo negativo, pois os meios do senso comum não são os elementos da uma ignorância figurada nas ações sociais, vendo que suas implicações tem tantas influências no conjunto da obra do viver social e humano.
O que acontece muitas vezes quando principalmente aspirantes das ciências humanas fazem uma interpretação equivocada dos fatos é a fomentação de conflitos ideológicos entre o social ao qual está inserido e a cientificidade da realidade socialmente construída. É importante que haja um certo desapego das práticas preconceitualizadas por parte desses cientistas, porém não há como estabelecer um plano de fuga ou evasão daquela realidade a qual foi construído como indivíduo.
Senso comum e conhecimento científico estão sempre numa dicotomia ou bifurcação por sua distância considerável e constante aproximação. Senso comum geralmente se baseia nos sentidos, crenças, tradições, e assim é fruto das experiências do cotidiano. Já o conhecimento científico se molda por um raciocínio objetivo, se sua comprovação é dada pelos métodos experimentais. Mas o senso comum não é por assim só um conjunto de ações, é um saber que se adquire através da vida social, de modo que se constitui de modo informal, adquirido de forma espontânea pelo contato, situações e objetos que correspondem a vida social do indivíduo. O senso comum é então um elemento fundamental, pois todas suas implicações orientam os indivíduos o modo de viver cotidianamente suas realidades, seus saberes populares assim então constituem as bases de adaptação do viver social, mas que por vezes pode negativamente implicar um série de opiniões e crenças que podem constituir ações e idéias preconceituosas facilmente transmitidas por gerações e que serão combatidas apenas por implicações científicas.
Com tudo, o aspirante das ciências humanas deve principalmente compreender não apenas o senso comum como dado oposto a realidade ideológica científica a qual está disposto, mas vendo que essa associação existe de modo dependente; a geração de conflitos por má interpretação da crítica social e científica acerca do senso comum pode gerar uma discordância maior das premissas do cientista social com a realidade a qual está inserido.