sexta-feira, 13 de julho de 2012

Privataria Potiguar¹



T
Se tudo seguir o ritmo das privatizações no estado, irei ganhar alguma coisa me unindo a Amaury Ribeiro Jr². 




udo começou em outubro de 2010, o estado do Rio Grande do Norte recebia a notícia, saia a oligarquia Maia e entrava os Rosados no poder. Em pleno século XXI, ainda resistem no estado às velhas oligarquias e as políticas que alienam a opinião da sociedade pregando a velha ideologia da boa família. No estado sai o PSB e entra o governo do partido Democratas, e que assim como a ideologia do PSDB, não é nenhuma surpresa que venha carregado de políticas privatistas. Começa aqui a privataria potiguar, podendo ser carinhosamente chamada de Privataria Demoníaca.
Estamos no segundo ano do governo de Rosalba Ciarlini, a rosa do povo, o primeiro ano começou com um chororó em massa por parte dos novos governantes sobre as dificuldades das contas públicas com dívidas enormes deixadas pela gestão anterior. Começaram as obras para a copa de 2014 na marra, e que por sinal é a única coisa que funciona no estado e na cidade de Natal - pois quando os operários da copa fazem greves logo são atendidos, os motoristas de ônibus fazem greve e a população fica semanas sem transporte. Segundo ano de gestão e as coisas complicaram mais um pouco, promotores do Ministério Público deram entrevistas a televisões locais afirmando que o governo deve assumir suas obrigações sem que seja preciso determinações judiciais. Isso por que a segurança está um caos no estado, enquanto o barril de pólvora de Alcaçuz está prestes a explodir, o Estado  sutilmente se omite das suas obrigações legais.
Depois da saúde pública do estado passar mais de dois meses de greve, a governadora Rosalba decretou estado de calamidade. Concertaram a situação? Não, mas em nota extraordinária à mídia, o governo procura resolver a situação e declararam a abertura de um interessantíssimo processo de PPP. Interessante pra o governo de direita do DEM, né?! Porque para o povo isso não é tão legal quanto se pensa. Vou explicar um pouco como funciona essa lógica: os governos de direita trabalham tendencialmente para a produção do capital do que para o próprio benefício social, esse trabalho então privilegia principalmente o capital privado, ou seja, as empresas privadas. O Estado estabelece então as PPP's - Parcerias Público-Privadas - num modo onde o governo proporciona melhores condições para o desenvolvimento das empresas privadas dentro de necessidades públicas, transformando assim o cidadão em cliente.
Uma PPP é uma verdadeira aliança que vende as obrigações do Estado ao poder privado, então privatizando os bens públicos e suas instituições. E há quem ache vantagem nisso, justificando com argumentos que: "já que o governo não presta, privatiza e blábláblá!". Ai você acha justo pagar por serviços essenciais? Isso é abdicar dos direitos de cidadania para benefício do capital, e engordando ainda mais o empresariado.
No Rio Grande do Norte, a saúde pública já caiu na malha de um processo de privatização, agora estamos assistindo a mais um setor público prestes a entrar na panelinha da PPP. A violência está tomando de conta, assaltos a ônibus acontecem e são noticiados todos os dias, e o serviço é paralisado várias vezes, onde os trabalhadores cobram principalmente medidas de segurança para terem condições de trabalhar e os usuários são vítimas constantes da marginalidade também, e há quem indique que os índices aqui estão maiores do que no Rio de Janeiro. A polícia não está nas ruas, os concursados não estão sendo chamados, e quem ta pagando por tudo isso é o cidadão, e que vai continuar pagando quando for decretado estado de calamidade, ou de guerra, até que seja feita uma Parceria Público-Privada na segurança também - aqui o cidadão vira cliente mais uma vez e pagará por sua segurança, coisa que já vem até acontecendo quando nossas casas parecem fortalezas e vivemos presos por grades em casa enquanto os vagabundos estão soltos nas ruas, e o estado finge que não ver, porque as obras da copa tomam a visão da sede da governadoria, se construindo aquele elefante branco do Arena das Dunas e o resto que se vire, ou compre pelos serviços básicos que é obrigação do Estado prover.       
No final de tudo vocês votam em governos de direita, e depois ficam reclamando. Não sabe a diferença da política de direita e esquerda? Não tem noção das diferenciações partidárias de direita e esquerda? Saia então da vida do pão e circo e entenda que reclamar só pela internet não funciona, e se proponha a ter uma educação política consciente! Mas se preferirem que as coisas continuem com estão, bom pra mim que irei vender "A Privataria Potiguar": em breve nas melhores livrarias do Rio Grande do Norte.

¹ Inspirado no título "A Privataria Tucana" de Amaury Ribeiro Jr.
² Escritor do livro "A Privataria Tucana" que explana esquemas de privatizações do governo de direita do PSBD.
Imagens: blog do robson pires e blog do suassuna

domingo, 17 de junho de 2012

Disciplinamento para o autofinanciamento


Doa a quem doer, mas essa crítica é um retrato fatídico do que acontece hoje e que foi abordado pelo Sociólogo francês, Pierre Bourdieu, desde meados da década de 70. No dia 13 do mês de julho, o professor de Sociologia do ensino médio de escolas particulares importantes da cidade de Natal/RN, Josemi Medeiros, levou para uma classe de estudantes universitários (mas precisamente a minha classe), a convite da Professora Drª Irene Paiva, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, suas experiências com a prática docente. Josemi convive com uma díade de cultura educacional ao ensinar não somente em escolas particulares, mas também em públicas, onde nós sabemos que existe uma grande discordância entre essas realidades.
Uma questão me inquietou bastante em sua fala quando o professor colocou que muitas vezes tinha que tirar do próprio bolso para dispor o material didático produzido pelo então "professor pesquisador" aos alunos da rede pública de ensino. Constantemente, a produção de material didático pelo professor coloca o docente em contato direto com o âmbito da pesquisa, mas outro papel do professor foi o que acometerá minha inquietação: o professor observador.
Bem sabemos que os professores brasileiros não são dotados de cargos de altos salários, e imaginem como será para um professor tirar de seus recursos para garantir a educação de jovens que não possuem de altos recursos financeiros. O fato é que o professor de seu âmbito de pesquisador tornou-se um observador ao ver que mesmo que os alunos da rede pública se reconheçam como desprovidos de capital para o financiamento da própria educação, ele pode perceber que os alunos revertem - na fala dos próprios - o capital para consumo de elementos bem mais disseminados pela mídia. Os jovens possuem celulares modernos, gastam com roupas e marcas e até com festas e bebidas nos finais de semana. Esse comportamento me inquietou quanto o papel do professor como instigador da conduta de disciplinamento e comprometimento da cultura educacional e seus financiamentos pelo aluno. É tirar de uma parte dos recursos do lazer pra a consciência de que a formação educacional precisa de um esforço próprio para o consumo dos elementos escolares.
Segundo observações feitas pelo próprio sociólogo, Pierre Bourdieu, as classes populares não dão a mesma importância à formação educacional como os herdeiros do capital cultural, evidenciando ainda o consumo dos elementos midiáticos. Os herdeiros dão sim, uma importância maior ao consumo de elementos culturais, bem como a instituições escolares e universitárias. Essa não é uma suposição imagética, que em meus tempos de bolsista do projeto PIBID (Programa Institucional de Bolsas e Iniciação à Docência), eu estranhava entrar numa sala de terceiro ano de ensino médio e não encontrar alunos dispostos a prestar vestibular. Coisa que vivi constantemente no ensino médio. E não que os alunos da rede particular não dão a mesma importância aos elementos propagados pela mídia, mas os da rede pública até onde eu vi dão relativa importância a esse tipo de consumo material, educação está, quase sempre, em segundo plano.
Pensar essa perspectiva nos leva a refletir, como o professor poderia então introduzir a consciência sobre a cultura escolar, e mostrar aos jovens tudo sobre o disciplinamento com a cultura educacional, responsabilizando os jovens de acordo com o comprometimento e a consciência do interesse próprio do autofinanciamento?

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Bruzundanga¹ Rodoviária


Eram aproximadamente 10:30 da manhã do sétimo dia do mês de maio quando tudo começou, o terminal da empresa Natal Card estava fechado num shopping da cidade. Sem da o mínimo de explicação devida aos usuários, tudo que você encontrava na porta era um lista de locais para recarregar o cartão magnético usado nas passagens de ônibus e um atendente mal humorado respondendo as duvidas dos usuários, eu teria que andar bastante se quisesse recarregar meu cartão para não pagar uma passagem cara por um serviço de péssima qualidade de mobilidade urbana. Fui!
A tempos atrás a mesma empresa obrigava os usuários de Natal a passagem horas - eu disse horas - numa fila quilometrica para recarregar seus créditos. Começou daí os problemas, aí o que se pensa é: "não pode ficar pior!"
Pois ficou...
Isso porque os motoristas de ônibus e cobradores anunciaram uma greve que eu, particularmente, chamo de ilegal! Pararam toda a frota da cidade, e para amenizar, mandam colocar os 30% circulando nas ruas! Na realidade essa tomada é uma díade de valores que é complicado ver, no mais, os trabalhadores tem todo direito de fazer greve, óbvio! Mas vejam se essa está sendo feita de modo prudente? Ônibus já foram hoje depredados por grevistas, os colegas 30% alguns foram até agredidos. Que seja feita a greve, mas porque a população tem que sofrer com isso? Os usuários já pagam caro (2,20) por um serviço de péssima qualidade, e falo com propriedade pois já vi motoristas não cumprirem com o dever de por exemplo, negarem parada a pessoas idosas, como fez um motorista da linha 52 (empresa via sul), carro 05085, causando um enorme mal estar entre os que estavam no ônibus no final de 2011. O motorista desse dia ainda tentou agredir um usuário que reclamava a irresponsabilidade dele em não parar o carro para quem tinha direito. Eu vi! Eu tava lá! Como motoristas que fazem dos passageiros saco de batata dentro do carro, dirigindo de qualquer jeito, fazendo com que as pessoas caiam umas sobre as outras. Trafegam sob péssimas condições de trabalho, mas isso não é culpa minha, que pago caro para andar nas carroças natalenses.
Senhor Augusto Maranhão ainda fala em aumentar a tarifa, e em entrevista ao programa Xeque-Mate da TVU/UFRN, disse que não usaria o transporte coletivo. Se eu tivesse meu carro particular também não o trocaria para ser "agredida" pelo enlatamento público de Natal. Não é justo que um sistema que atenta a paciência do usuário ainda tenha que aumentar a tarifa. Essa situação é amplamente egoísta ao meu ver. De um lado trabalhadores reivindicando seus direitos, mas atropelando os direitos dos demais cidadãos... e do outro empresários preocupados com próprio lucro. Quem está no meio disso tudo são as pessoas que tem que se submeter a essa situação ridícula.
Aumentar a tarifa da passagem? E vocês ainda acham pouco? O povo não pode mais com isso!
Mais respeito com os usuários, pois vocês não estão nos fazendo favor! A gente paga... e caro!!

¹Obra do escritor Lima Barreto

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O Ultimo Figueiredo

"Misturava um frágil zelo democrático a uma truculência paternal
Com uma alternância imprevisível de avanços e retrocessos
Vingara
Mas ainda pairava bastante incerteza no ar.
Mesmo governo que prendeu sindicalistas
ei de extinguir os senadores biônicos.
Enfim, liberada a Calabar... o Elogio da Traição,
e mesmo o compositor teve seu show proibido.

Foi nesse Brasil, que oscilava pendularmente entre a restauração democrática e o lixo autoritário remanescente.
Vida: título singelo e emblemático."


Imagem: http://entretenimento.r7.com/blogs/giuseppe-oristanio/2009/10/15/10152009-015230-pm/

adaptado

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Romantismo Político


“Micarla quer se reeleger prefeita da cidade de Natal (RN) com 90% de reprovação. Será que consegue?” Eu digo que sim. Isso não está somente na má campanha de sua gestão, mas é aquilo que o brasileiro bem conhece no exercício político eleitoral de esquecer e não olhar para o passado.

Depois do caos no começo dos anos 90, o presidente Collor impugnado do mandato por pressão popular volta anos depois como senador. Não acho impossível que o mesmo ocorra com a prefeita Micarla de Sousa. O dom político da demagogia é o que possibilita que esses fenômenos abigobalíssimos ocorram, isso porque o político que pretende alcançar o poder já viu que o povo não gosta que represente em suas campanhas a realidade nua e crua (dados, estatísticas, números e feitos), mas o que acontece é um show de novelas e dramaturgia, onde o discurso é moldado baseando-se naquilo que o povo quer ouvir.

O típico discurso Malufiano onde tudo de errado poder ter sido feito, mas que no fim das contas são cegadas quando se prega a questão do trabalho que o povo tanto idolatra: “Roubei, mas eu trabalho!”

#ForaMicarla, ocupação na câmara dos vereadores, as passeatas que mobilizaram e deram o que falar em Natal não serão esquecidas, tanto quanto foi o impeachment de Fernando Collor, mas que o povo se deixará iludir quando a filha de Carlos Alberto de Sousa abrir a boca para falar dos valores da instituição familiar ao seu favor, e acoplando isso as quimeras de ações políticas, eu não tenho dúvidas.

O que falta então, o lançamento de uma proposta de educação eleitoral sólida, ensinar mesmo ao povo a não cair em suas contradições políticas, e parar de ver o horário eleitoral como novelinha das necessidades perdidas. Vimos isso muito bem quando nas eleições presidenciáveis passada teve candidatos que enfatizaram a família e a religião, quase não colocaram o Brasil de fato, iludindo muita gente. Quem gritou revolução perdeu fácil, e quem chorava a institucionalidade da família, das Igrejas e da sexualidade, acima da realidade nacional quase botou a funcionalidade de projetos políticos a perder.

Falta de educação, falta de racionalidade política. Vi gente mediana defendendo determinados candidatos por sua constitucionalidade crítica e política, e vi uma gente de bairros periféricos defendendo candidatos que na realidade não trabalham por causas sociais, e sim puramente capitais, defendiam candidatos indiscretamente neoliberais em oposição à incerta opção sexual.

O povo precisa saber em quem votar não somente a partir da constituição do discurso eleitoral e seus fascínios demagógicos, educação eleitoral para estudar quem são, constituição partidária, funcionalidade política, aplicabilidade democrática, projeções econômicas e pretensões sociais.

Enquanto uns se iludem de um lado, eu vou aqui com minhas quimeras políticas. Sonhando com a institucionalização de um povo educado politicamente, crítico e combatentes das alienações demagógicas. A democracia sendo feita num nível alto de instrução. Ah, que doce ilusão a minha.

domingo, 9 de outubro de 2011

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Lula em Paris: imprensa sabuja dá vexame

Circula há alguns dias na internet um debate sobre o mérito de o ex-presidente Lula ter recebido o título de Doutor Honoris Causa do Instituto de Estudos Políticos de Paris, mais conhecido como Sciences-Po, na terça-feira 27.

Em seu blog Balaio do Kotscho, no R7, o experiente jornalista resume a vergonhosa cobertura dos colegas brasileiros. Confira:

Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?

Lula recebe título de Doutor "Honoris Causa" em Paris. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Começa assim, acreditem, com esta pergunta indecorosa, a entrevista de Deborah Berlinck, correspondente de O Globo em Paris, com Richard Descoings, diretor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Sciences- Po, que entregou o título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente Lula, na tarde desta terça-feira. Para outro colega, pareceu estranho premiar um presidente que se orgulha de nunca ter lido um livro.

Resposta de Descoings:

“O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico (…) O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences- Po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente do diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade.”

A entrevista completa de Berlinck com Descoings foi publicada no portal de O Globo às 22h56 do dia 22/9. Mas a história completa do vexame que a imprensa nativa sabuja deu estes dias, inconformada por Lula ter sido o primeiro latino-americano a receber este título, que só foi outorgado a 16 personalidades mundiais em 140 anos de história da instituição, foi contada por um jornalista argentino, Martin Granovsky, no jornal Página 12.

Tomei emprestada de Mino Carta a expressão imprensa sabuja porque é a que melhor qualifica o que aconteceu na cobertura do sétimo e mais importante título de Doutor Honoris Causa que Lula recebeu este ano. Sabujo, segundo as definições encontradas no Dicionário Informal, significa servil, bajulador, adulador, baba-ovo, lambe-cu, lambe-botas, capacho.

Sob o título “Escravocratas contra Lula”, Granovsky relata o que aconteceu durante uma exposição feita na véspera pelo diretor Richard Descoings para explicar as razões da iniciativa do Science- Po de entregar o título ao ex-presidente brasileiro.

“Naturalmente, para escutar Descoings, foram chamados vários colegas brasileiros. O professor Descoings quis ser amável e didático (…). Um dos colegas perguntou se era o caso de se premiar a quem se orgulhava de nunca ter lido um livro. O professor manteve sua calma e deu um olhar de assombrado(…).

“Por que premiam a um presidente que tolerou a corrupção”, foi a pergunta seguinte. O professor sorriu e disse: “Veja, Sciences Po não é a Igreja Católica. Não entra em análises morais, nem tira conclusões apressadas. Deixa para o julgamento da história este assunto e outros muito importantes, como a eletrificação das favelas em todo o Brasil e as políticas sociais (…). Não desculpamos, nem julgamos. Simplesmente, não damos lições de moral a outros países.”

Outro colega brasileiro perguntou, com ironia, se o Honoris Causa de Lula era parte da ação afirmativa do Sciences Po. Descoings o observou com atenção, antes de responder. “As elites não são apenas escolares ou sociais”, disse. “Os que avaliam quem são os melhores, também. Caso contrário, estaríamos diante de um caso de elitismo social. Lula é um torneiro-mecânico que chegou à presidência, mas pelo que entendi foi votado por milhões de brasileiros em eleições democráticas.”

No final do artigo, o jornalista argentino Martin Granovsky escreve para vergonha dos jornalistas brasileiros:

“Em meio a esta discussão, Lula chegará à França. Convém que saiba que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. No Brasil, a Casa Grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terra e escravos. Assim, Lula, silêncio por favor. Os da Casa Grande estão irritados.”

Desde que Lula passou o cargo de presidente da República para Dilma Rousseff há nove meses, a nossa grande imprensa tenta jogar um contra o outro e procura detonar a imagem do seu governo, que chegou ao final dos oito anos com índices de aprovação acima de 80%.

Como até agora não conseguiram uma coisa nem outra, tentam apagar Lula do mapa. O melhor exemplo foi dado hoje pelo maior jornal do País, a Folha de S. Paulo, que não encontrou espaço na sua edição de 74 páginas para publicar uma mísera linha sobre o importante título outorgado a Lula pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris.

Em compensação, encontrou espaço para publicar uma simpática foto de Marina Silva ao lado de Fernando Henrique Cardoso, em importante evento do instituto do mesmo nome, com este texto-legenda:

“AFAGOS – FHC e Marina em debate sobre Código Florestal no instituto do ex-presidente; o tucano creditou ao fascínio que Marina gera o fato de o auditório estar lotado.”

Assim como decisões da Justiça, critérios editoriais não se discute, claro.

Enquanto isso, em Paris, segundo relato publicado no portal de O Globo pela correspondente Deborah Berlinck, às 16h37, ficamos sabendo que:

“O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido com festa no Instituto de Estudos Políticos de Paris – o Sciences- Po -, na França, para receber mais um título de doutor honoris causa, nesta terça-feira. Tratado como uma estrela desde sua entrada na instituição, ele foi cercado por estudantes e, aos gritos, foi saudado. Antes de chegar à sala de homenagem, em um corredor, Lula ouviu, dos franceses, a música de Geraldo Vandré, “para não dizer que eu não falei das flores”.

“A sala do instituto onde ocorreu a cerimônia tinha capacidade para 500 pessoas, mas muitos estudantes ficaram do lado de fora. O diretor da universidade, Richard Descoings, abriu a cerimônia explicando que a escolha do ex-presidente tinha sido feita por unanimidade.”

Em seu discurso de agradecimento, Lula disse:

“Embora eu tenha sido o único governante do Brasil que não tinha diploma universitário, já sou o presidente que mais fez universidades na história do Brasil, e isso possivelmente porque eu quisesse que parte dos filhos dos brasileiros tivesse a oportunidade que eu não tive.”

Para certos brasileiros, certamente deve ser duro ouvir estas coisas. É melhor nem ficar sabendo.