sexta-feira, 5 de março de 2010

Will e o mundo dos porquês

Will é um menino como todos os outros, há momentos que pensa que quando crescer vai ser bombeiro, policial, piloto, astronauta, médico e demais sonhos que todos os meninos na sua faixa etária possuem.
Mas Will não é só um menino físico, com seus dilemas e suas alegrias infantis, ele é especial, ele pensa e é racional, como as outras crianças, porém mais crítico, sendo que jamais pensaria ter um futuro tão alto quanto ser um astrounauta nas estrelas, tão brilhante como ser um héroi. E como todas as crianças Will pergunta, e pergunta muito. Tudo que ele quer é conhecer as coisas de seu mundo. Porque o céu é azul? Porque eu sou eu? Porque? Porque? Porque?

Bem, mesmo tendo esse sentido curioso e o cuidado de pensar, como todas as crianças Will é ensinado. Seus pais lhe ensinam o certo e o errado, na escola lhe ensinam matérias, valores e mitos. Na rua lhe ensinam a jogar bola, a andar de bicicleta, jogos e brincadeiras.

Will é esperto e aprende fácil. Mas mal sabe ele que muitas coisas são padrões ideologicos do seu mundo. Porque as meninas brincam de boneca e os meninos de carrinho? Will acredita que seja porque as brincadeiras são dominadas por gênero sexual.

E quem determinou essa padronização sexual?

A práticas da vida existiam antes mesmo de Will nascer, e se tais práticas existiam antes dele, é porque existiam fora dele.

Will foi ensinado a brincar de carrinho, e não de boneca, por ser uma idéia padrão social a respeito do seu gênero sexual. Will vai crescer, se formar em uma faculdade, ter um emprego, casar, ter filhos, cria-los... criar seus filhos do mesmo modo que foi criado, ensinado. Ele irá ensinar seus filhos, construi-los. Will aprendeu a andar, a falar, não por uma ordem natural e biológica, mas porque seus pais o construiram bipede, falante, pensante. E ele criar seus filhos, e também outras coisas. Se o ser humano é o único ser criador de seus meios (comportamentos, idéias, sociedade), mas quem cria o ser humano?

Will, futuramente aprendeu que ele é capaz de criar coisas, e de modifica-las. Mas quem o criou e é capaz de modifica-lo? Quem o criou foram outros seres humanos: pai e mãe! E quem o modificou foram as idéias padrões da sociedade. Will queria ser um astronauta, mas alguém disse que isso seria dificil de conseguir, então por uma idéia alheia ele optou por ser jornalista. Algo próximo a realidade dele, que assim como ele é também algo mutável.

Mas um determinado tempo Will para, pensa e se enche de dúvidas. Até dado tempo ele acreditava ter certeza de tudo a sua volta, e que todas as suas verdades seriam inabaláveis. Passando por um livraria Will encontra um livro que explica quase tudo sobre ele. Sobre ser humano.
Nesse livro Will percebe que a pergunta maior não é a das incertezas que o coletivo pensa: "Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou?", mas as respostas para quem é você. De onde veio e para onde vai.
O ser humano é um "matérial", moldado, em constante modificação biologica, e em incessantes dúvidas calamitosas.

Will mudou, e irá continuar mudando. E chega um ponto em que ele se da conta de que ele, assim como outros humanos, é uma constante mudança. Uma constante criação, uma constante construção, e constantemente mutável. Will percebe isso fácilmente pelas lembranças: "antes eu queria ser assim, hoje sou diferente! Antes eu pensava assim, hoje penso diferente. Eu era assim e mudei!". Tudo é modificado no comportamentalismo humano pois esse não passa de uma idéia, e idéias são mutáveis.
Sua sociedade espera que você um dia case e tenha filhos. Isso porque a sociedade sustenta essa idéia. E você, ao descobrir ser uma idéia constroi suas idéias onde casar e ter filhos não está na lista. E talvez porque você foi ensinado a isso, porque você é fruto de um casamento e filho de alguém.
Porque você tem a idéia de que os sentimentos é algo que vem do peito, do coração. Mas coração não pensa, e isso é mais um idéia padronizada da sociedade. Se coração não pensa quem ama é a cabeça, e sendo amor um sentimento (ou idéia) essa pode ser mutável.

Will tinha a idéia de que suas paixões era algo interiorizado. Mas se essas coisas já existiam antes dele, é porque existiam fora dele, e ele foi apenas uma vítima de ensinamentos dos padrões sociais. Nem arrependido, nem revoltado. Will passou a ver seus sentimentos de outra forma, com os olhos da mente e não como os olhos cegos do coração. Passou a racionalizar seus comportamentos e questionar seus ensinamentos. E tendo descoberto que tudo funciona diferente daquilo que pensa igenuamente sua sociedade ele irá passar os mesmos ensinamentos aos humanos que ele criará?

Talvez sim, pois a criação humana é algo incerto, mutável. Talvez sim, porque ele foi criado daquela maneira. Talvez não, e correrá o risco de criar seres humanos friamente racionáis, ou talvez sim, e criará os humanos com idéologias racionáis. Ver quantos talvez? Isso porque somos humanos e assim como nosso mundo, nossa mente é algo incerto, não concreto e com idéias não fixas e fácilmente modificaveis.
Mesmo que ele não crie os seus futuros com aquilo que aprendeu e descobriu, outros humanos iriam descobrir essas idéias, outros Wills entraram em cena, e mesmo que constantemente ensinados pela padronização social, os demais Wills perceberão que tudo aquilo que norteia a infinita tragetória humana é constantemente pensável, calculável, mutável... que tudo parte da mente.

2 comentários:

  1. Lembrando que esse 'artigo' é de minha autoria. Para os desentendidos sobre o assunto, aconselho ler os artigos passados a baixo:
    1) Ei, você...
    2) Pssssssiu, não perturbe a cultura!
    3) Sentimentalismo

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  2. Mto bom, Mila!
    Mto bonito msm! Fico até sem palavras!

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