domingo, 3 de outubro de 2010

Consciência concreta

Acho que eram quase 9 horas da manhã quando, saindo de uma aula de Antropologia Urbana do setor de aulas II da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) desci em direção a parada do circular para ir à outra parte do campus universitário em Natal.
Me sento no ponto, que ainda batia o sol, com medo de me perder na viagem em um transporte que nunca tinha estado antes. Na parada, poucas pessoas. Falar a verdade, tinham 3: eu, um colega da disciplina de antropologia urbana (que é alguns períodos mais adiantado) sentado mais a frente e na outra ponta do canto que eu estava sentada um senhor moreno, baixinho, de cabelo ralo (com a aparência de ser crespo). Vestia-se simples, um tênis bem simples, uma camiseta cinza da UFRN e calça jeans. Nas mãos carregava alguns papeis e olhava sempre para os pés e para frente na esperança que chegasse seu ônibus.
Meu medo era maior de me perder do que daquele homem estranho acuado e tímido na outra ponta do banco, então não hesitei em perguntar:
- Moço, qualquer circular aqui pára em todos os pontos, até no shopping?
- Para sim! - Ele respondeu. - Quando chegar onde você quer descer puxe a corda.
- Ah, obrigada. É que eu nunca andei por aqui, não quero ter que me perder.
E ele continuou:
- Isso aqui é grande demais, eu 'to' aqui, venho desse prédio amarelo (apontando para o prédio de Geofísica) para ir para um de física que é lá na frente. Ai o ônibus da uma volta. Essa faculdade é muito grande, muito bonita. E agora cheia de construção, cheia desses prédios bonitos e enormes que estão levantando. Isso só pode ter muito dinheiro, viu?! E a cada ano que passa aumenta mais, e chega mais gente.
Apenas concordei ouvindo e deixei-o prosseguir com o depoimento que vinha dando.
- Sabe moça, faz muito tempo que trabalho aqui. Eu sirvo aqui e tenho que ficar de um lado para outro nesse "mei” mundo que é esse campus. E ele é só melhorando, ficando mais bonito mais cheio de prédios bonitos e mais cheio de gente. E isso melhorou de Lula para cá. Na época de Fernando Henrique só tinha esses pequenininhos aqui, esses de pedra. Acho que ele não mandava muito dinheiro não, e isso aqui é muito importante pro Brasil. Mas quando Lula entrou o negócio começou a ficar bonito, começou a crescer. E tem mais, o monte de empregos que gerou: contrata esses pedreiros, contrata jardineiro, faxineiro, porteiro, professor. Lula foi muito bom, tem gente que acha ele ruim. Tudo melhorou no governo dele, meu emprego aqui melhorou demais. Eu só queria poder votar nele de novo, mas já que ele não será candidato eu vou votar na candidata dele.

Eu, maliciosamente, perguntei para ver se ele ia responder certo:
- E quem é a candidata dele?
- Dilma, moça! E ela vai fazer mais porque ele já deixou tudo arrumado!

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