sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Franz Boas


"O ocuparmo-nos de culturas vivas criou um mais forte interesse pela totalidade de cada cultura. Sente-se cada vez mais que quase nenhuma feição cultural é compreensível quando separada do conjunto de que faz parte. A tentativa de conceber toda uma cultura como se ela fosse controlada por um único grupo de condições não resolvia o problema. O abordá-lo formalistamente sob o ponto de vista puramente antropogeográfico, económico ou outro parecia fornecer representações deformadas.
O desejo de captar o sentido de uma cultura como um conjunto, leva-nos a considerar descrições de comportamento estereotipado apenas como uma alpondra que nos conduz a outros problemas. Devemos compreender o indivíduo como um ser que vive na cultura; e a cultura, como vivida pelos seus indivíduos. O interesse por estes problemas socio-psicológicos não se opõe de modo algum ao ponto de vista histórico. Pelo contrário, revela processos dinâmicos que têm actuado em modificações culturais, e habilita-nos a apreciar testemunhos obtidos por uma comparação pormenorizada de culturas aparentadas.
Em virtude do carácter do material, o problema da vida cultural apresenta-se muitas vezes como o problema da interrelação entre vários aspectos de cultura. Em certos casos este estudo conduz a uma apreciação mais correcta da intensidade de integração ou da falta dela em uma cultura. Torna perfeitamente claras as formas de integração em vários tipos de cultura, o que prova que as relações entre diferentes aspectos da cultura seguem os padrões mais variados e não se prestam, com proveito, a generalizações. Mas raramente conduz, e quando o faz, só indirectamente, a uma compreensão da relação entre indivíduo e cultura.
Isso requer que se penetre profundamente no espírito da cultura em questão, que se trave conhecimento com as atitudes que controlam o comportamento do indivíduo e do grupo. (...)
Como a autora põe em relevo, nem todas as culturas são definidas por um carácter dominante, mas parece provável que quanto mais íntimo é o nosso conhecimento do impulsos culturais que determinam o comportamente do indivíduo, tanto mais reconheceremos que nelas dominam certos refreamentos de emoção, certos ideais de conduta, que explicam atitudes que a nós se nos apresentam como anormais quando vistas do ponto de vista da nossa civilização. A relatividade do que se considera social ou associal, normal ou anormal, aparece-nos agora a uma nova luz."

Um comentário:

  1. E a academia tem um papel central em institucionalizar e legitimar essa monovisão de cultura. Nos sentidos mais simples quando não temos acesso a uma diversidade de perspectivas diferentes da ocidental dominante, para formar seus discentes das mais diferentes areas... Quando vamos para a medicina, os conhecimentos tradicionais das chapoeiras... São apropriados pela academia, ganham uma nova roupagem e voltam como grandes descobertas que viram patentes de grandes industrias farmaceuticas e depois a mesma dona Maria que produzia e tomava seu chá de boldo pro estomago, gasta R$20,00 em medicamentos com base no mesmo principio ativo.
    Na arte, olhamos para o empobrecimento da musica onde as mulheres são de cachorras a melancias e somos incapazes que reagir, pois o povo gosta... Assumimos como algo normativo que vem carregado de um monte de outros valores sistemáticamente impostos as massas... enquanto isso quem produz musica de qualidade não tem nem acesso a tecnologia para compartilhar sua produção...
    No direito, bem no direito chega a ser comico, como vamos falar em direito se dentro da propria universidade aqueles que são a maioria dos estudantes nem direito a voz tem, onde 35.000 tem um peso nas decisões de 15%.

    A anormalidade dentro de ums estrutura social como a nossa é estrutural pra a contrução de novos tempos!
    Digaí...

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