Entre todas as séries de TV que assisto, ou já assisti (Gilmore Girl's, Bones, Friends, White Collar, V, Californication, Glee, The Big Bag Theory, 24h) The O.C. com certeza é uma que me prende e que eu cultuo até hoje. Produzida pela Warner (5 de agosto de 2003), The O.C. vai além do fato de ser uma série americana sobre adolescentes e uma vida da elite de uma pequena cidade da Califórnia.
Se assistida sempre levando em conta as várias temáticas que a série aborda (diferenças de classes sociais, adolescentes problemáticos, drogas, sexualidade, violência e valores familiares) a série vai se tornando uma bola de neve de uma realidade séria, sendo além de meras "picuinhas" de um retrato do entretenimento televisionado.
Estou revendo a série, e também alguns comentários dos internautas sobre a mesma. E o que mais me chamou a atenção são os comentários com respeito a personagem Marissa Cooper (Mischa Barton). Adolescente popular, vinda de uma família da elite de Newport Beach, Marissa tem tudo para seguir a diante uma vida de ascensão social. Mas a realidade muda e desmorona até nas melhores famílias. Jimmy e Julie Cooper não fazem muito bem o papel de pais exemplares para Marissa, e é em casa que ela começa a decair.
Envolvida com drogas, Marissa Cooper protagoniza um dos maiores dilemas da vida adolescente: não ter estabilidade emocional para combater os dilemas que a vida trás. Os telespectadores apenas fazem comentários ridículos denegrindo uma imagem já denegrida, sem muitas vezes ver o que há por trás dela. Não é só ter bens materiais e uma vida de princesa que uma pessoa viverá no país das maravilhas, Marissa é um exemplo de que todo o materialismo não ensina as pessoas questões sobre valores humanos. Talvez por isso desagradasse tanto.
Vivendo numa família de fachada e cheia de mentiras, a personagem de Mischa Barton, que deveria está aprendendo a como lidar com a popularidade e achando que a vida é uma maravilha, vê seu castelo ruir quando descobre um pai falido e uma mãe extremamente consumista que não consegue equilibrar a estrutura familiar quando descobre que o poder financeiro veio abaixo.
Rodeada de mentiras, sujeita a muitas liberdades e vários tipos de relações desestruturadas, Marissa, como todo adolescente frágil e inexperiente não consegue aceitar a situação com maturidade que não lhe foi ao mínino ensinada. Ela recorre ao que muitos jovens em quaisquer classes sociais recorreriam se não possuem uma estabilidade psicológica: aos escândalos. Rebeldia com doses de revolta, revolta com doses de drogas.
Marissa Cooper não fez o papel da mocinha chorona e chata como muitos pensam, ela é o exemplo do que quero chamar de falência juvenil. O poder financeiro muitas vezes trás aos jovens muitas liberdades, e estes aceitam seus cartões de créditos ilimitados e, acostumados a vida dos prazeres capitais, se tornam pessoas frágeis. A porta dos escândalos se abre e o mundo que lhe espera quando a maturidade chega de repente com a noticia da falência é justamente o da decadência pessoal.
Isso acontece em várias famílias, onde, quando o jovem não é ensinado a agir c
om maturidade qualquer mudança de vida é porta aberta para o declínio social. Na moderna vida em que estamos sujeitos, muitas vezes os valores humanos são postos em segundo plano quando a força capitalista se faz presente. Os valores materiais se sobrepõem e assim, algumas famílias abrem mão de uma educação firme por uma felicidade visada ou mastercardizada. E de fato, quando os valores socioeconômicos são atacados (aqueles que foram colocados como prioritários a uma vida feliz) a organização familiar, se for estruturada apenas por valores materiais, vem a baixo.
Marissa Cooper protagoniza essas fases da vida de alguém que não foi ensinada a ter uma estabilidade emocional. Enquanto era alguém pertencente às boas imagens da high society não passava da garotinha fútil, e quando o casamento dos seus pais começou a ser abalado assim como a união da família ao qual pertencia (até então unida pelos valores capitalistas) teve que aprender sozinha a lhe dar com uma realidade da vida além daquela de prazeres financeiros. Isso explica os abalos e os escândalos não só da personagem, mas de muitos indivíduos que tem que aprender de repente os valores humanos de uma vida sem altos valores econômicos.